quarta-feira, 30 de maio de 2012

Tributo

Quem é meu amigo lá no face, deve ter visto que eu postei ontem o vídeo em homenagem ao Thi que passamos na Missa de Sétimo Dia dele. É um video longo (por isso está dividido em duas partes) e demoramos a rever e desmembrar em dois para caber no youtube.

O mais maravilhoso nisso tudo é que as fotos foram escolhidas por ele e as frases são dele mesmo. Era um albúm que ele tinha feito no orkut, em que ele homenageava as pessoas de que mais gostava, lembrava as inúmeras farras e falava da fase em que estávamos, com os pequenos. Eu fiz só o finalzinho, a parte dele vai até a foto do quarto do Thomás e está tudo claro no vídeo.

Dois anos e quatro meses depois do pior que poderia acontecer em minha vida, eu assisto a esse video com lágrimas nos olhos e um aperto no peito. Ver essas fotos, o sorriso, os nossos amigos e familiares e não ter ele por aqui ainda é muito louco e difícil de acreditar e de explicar também.

A Mirys pediu pra gente falar sobre amor hoje. Não encontro melhor maneira. Nele, tinha muito amor para comigo, para com os filhos, para com a família, para com os pacientes, para com os amigos e para com o mundo. Ainda me impressiona a forma como ele parecia cuidar de tudo sempre e tanto. É triste, eu sei. Só que eu sinto hoje uma tristeza boa de sentir, sem desespero, sem me cortar inteira, sem abrir crateras dentro de mim. É uma tristeza leve em vê-lo e em ouvir a música que marcou a nossa história. "Ainda assim acredito ser possível reunirmo-nos num outro tipo de vínculo".

Parte I
Parte II

terça-feira, 29 de maio de 2012

Para M.

Eu não me canso de repetir que ser feliz exige coragem. A vida vai concatenando acontecimentos, altos e baixos, céu azul e escuro do fundo do poço e as pessoas vão lidando como podem, se virando como conseguem, enfrentando e fugindo, chorando e sorrindo. Nem sempre escolher a felicidade é o caminho mais fácil. Porém, tendo passado por momentos tão difíceis, é possível perceber quão efêmera ela é e aí surge esse intento, quase passional, de agarrá-la com unhas e dentes e de prendê-la numa cápsula.
 
Não é assim que se vive, não é assim que se consome a felicidade. No fundo, todo mundo sabe. A felicidade normalmente está atrelada à liberdade de ser quem se é e de estar em paz com as próprias escolhas, ainda que o mundo inteiro critique e julgue. Felicidade tem muito mais a ver com essa coragem de se encarar a si mesmo no espelho e saber exatamente o que importa. Daí porque falo tanto de coragem. Coragem para reconhecer o que de si não se enquadra nem será como o mundo espera. Coragem para entender o que se quer, o que se ama, o que vale a pena. Coragem para enfrentar os dedos apontados, o julgamento alheio, a opinião pública e saber, de fato, o que amansa o coração, o que faz a vida colorida, o que torna o mundo encantado e lindo, o que devolve o brilho aos olhos e o sorriso aos lábios.
 
Ser feliz exige essa honestidade consigo, essa transparência que nem sempre é fácil ter. Por isso mesmo, falo de coragem. Algumas coisas inevitavelmente vão doer, algumas pessoas inevitavelmente vão falar, alguns momentos inevitavelmente serão ruins; o importante é que, no cômputo final, quando deitar a cabeça no travesseiro, reste a sensação profunda e inequívoca que é esse mesmo o lugar em que se quer estar, o caminho que se quer seguir e aí, então, o sono seja de paz e de amor.
 
TJ!
 
PS: Porque nossas conversas, vezenquando, rendem posts.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

I just don't feel like it

- You know what the weirdest part about having a job is? You have to be there every day, even on the days you don't feel like it.
- Do you not feel like it today?
- Today's fine. I just don't know how I'll feel tomorrow.

Só que não. Today is not fine. Eu dormi tarde, muito tarde, e amanheceu com chuva. Vontade gritante de ficar na minha própria cama e eu estou aqui.


segunda-feira, 21 de maio de 2012

De repente, 30

(Festa de 1 Ano)
A menininha que eu fui sonhou muito e fez muitos planos para a vida toda. Muitos deles eram bem diferentes do que efetivamente aconteceu, outros tantos eram bem iguais. A menininha que eu fui sonhou em se tornar uma mulher forte, uma profissional bem sucedida, uma pessoa reconhecida por sei lá o quê e morria de medo de não conseguir encontrar um amor nem de vivê-lo. A menininha que eu fui temia passar a vida inteirinha cuidando da parte prática da vida, da parte objetiva e racional. Ela sempre achou que essa era a parte mais fácil: dependia só dela e de uma certa determinação. A meninha que eu fui é bem diferente da mulher que me tornei.

Há algum tempo, eu achava que tinha a vida toda pela frente. E é incrível pensar que, em poucos anos, tudo se define. Muito do que eu sou, alguns grandes amigos, uma parte importante da minha história de vida, o que definiu minha personalidade, quase tudo aquilo que me faz ser quem eu sou aconteceu nesses últimos anos. Eu não sou a mesma de dez anos atrás. Eu não tenho aqueles mesmos sonhos, eu não tenho mais aqueles objetivos que agora me parecem tão rasos e sem importância. Eu não vejo tudo pela óptica do meu próprio umbigo. Eu cresci. Não sei dizer bem ao certo exatamente em que ponto a transformação aconteceu, mas há tempos eu venho me sentindo mais adulta, mais madura, mais mulher e muito mais responsável pelo que vivo.

Eu não contava que a vida fosse passar tão rápido. Até lembro bem quando me disseram, no dia em que completei 15 anos, que dali pra frente seria tudo corrido. E é verdade. Sinto que dormi e acordei aqui. E nesse sono, a vida inteira mudou. As melhores e as piores coisas aconteceram. Olho para trás e não vejo uma curva ascendente, em que as coisas vão melhorando com o passar do tempo. Eu vejo tantos altos e baixos que é até difícil contabilizar. Eu vejo um ápice bem alto e vejo um fundo do poço daqueles que é bem possível pensar que nunca mais se sairá (embora, eu nunca tenha pensado exatamente assim). Eu vejo uma história bonita, com momentos lindos e com momentos tristes.

A parte prática da vida, na verdade, aconteceu mais ou menos como programado. Eu fui pra onde queria ter ido e a caminhada continua. E isso até que é bom. Não fico com aquela sensação de que não me falta mais nada. Falta, sim, ainda há o que fazer. A parte subjetiva da vida também aconteceu, melhor do que havia sido planejado até. Houve AMOR, houve filhos, houve a família de comercial de margarina que eu sonhei pra mim. Lamento ter durado tão pouco. Lamento ter sido uma piscada e, numa curva do caminho, estilhaçaram-se as perspectivas todas. De repente, só a certeza da efemeridade das coisas mundanas. Certeza essa que me fez enxergar o mundo com um novo olhar, com uma certa urgência, com uma capacidade incrível de tornar cristalino o que importa de verdade e o que não merece nem um segundo de testa enrugada.

A coisa boa de se estar no fundo do poço mais profundo que existe (Pollyanna feelings) é que lá só se tem duas alternativas: ficar ou subir. E até se pode ficar lá no canto escuro e seguro e quente e conhecido e triste. Porém, depois de algum tempo, tudo que se quer é sair dali. E eu saí. Eu decidi e saí. Travei minhas próprias batalhas internas, briguei com meus sentimentos, pensei que não fosse capaz de suportar, pensei que era um peso bem maior do que eu seria capaz de aguentar, pensei que a vida inteira pela frente seria mera sobrevivência. Só que não. Ao sair do escuro, descobri um mundo de luz. Recuperei a fé que havia perdido em algum lugar do caminho e percebi a transformação que esse esforço causou em mim.

De repente, eu me vejo aqui, às vésperas de completar 30 anos, em um lugar bem diferente daquele planejado há dez, quinze anos. Orgulho de ser quem eu sou, de não ter desistido naquele ponto em que isso foi opção, de ter priorizado o que era prioridade, de ter enfrentado a realidade dolorida e colorida que me foi imposta. Sinto-me abençoada por ter as pessoas que eu tenho por perto, por receber tanto carinho e tanto amor, por conseguir reconstruir minha vida sem andar pelo mundo como se carregasse o peso dele nas costas. Acredito que não é sorte ter encontrado de novo um amor. É fruto de escolhas íntimas feitas lá atrás, é decorrência dessa esperança de que algo bom estava ali na frente. Eu não fechei meus olhos para a vida e ela retribuiu em forma de surpresa. Outros presentes me foram lançados no caminho e que bom que eu escolhi abri-los e vivê-los. Sinto que, de tudo, tirei lições valiosas e aprendi a arte da resiliência.

Muitas coisas ainda doem. Para muitas delas, o que se pode fazer é apenas e tão somente encontrar uma forma de conviver, sem mascará-las, sem escondê-las. Eu estou em paz comigo mesma e continuo otimista demais, acreditando sempre que o pior já passou faz tempo e que agora a vida é de glória. Tenho muito mais a agradecer do que a lamentar. Tenho muito a celebrar, a comemorar.  Eu sempre soube que a felicidade estava no percurso, no caminho que se trilha com alegria ao lado de quem se ama. Eu amo as pessoas que vão de mãos dadas comigo e eu estou feliz. Que venha, PELO MENOS, mais uns sessenta anos!

sexta-feira, 18 de maio de 2012

DPA

Sabe aquela tristezinha? Uma leve depressão depois de momentos reflexivos em que se pensa sobre a vida, sobre o que foi, sobre o que é e sobre o que será? Sabe quando se fica girando em círculos tentando encontrar motivos e razões de novo para seguir adiante? para ter esperança? para não desistir? Sabe quando, de repente, parece que você envelheceu uma década e sua vida não é nada daquilo que você planejou que seria? Sabe quando você se pega meio cabisbaixa e não sabe nem explicar direito o porquê? Sabe quando tudo que queria era um abraço morno, um ombro amado com uma camisa reserva para se chorar todas as lágrimas da dor de existir e de não desistir?
 
Pois é, Depressão Pré-Aniversário é assim. Eis-me aqui. De repente, 30.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Eu observo os detalhes

Uma mentira pode se esconder em espetáculos a céu aberto, em grandes gestos com muitas testemunhas, em comícios em praças públicas, em festas lotadas de conhecidos. Uma mentira ou uma meia-verdade pode ser ocultada por meio de discursos inflamados e repetições exaustivas do que se quer fazer parecer ser. Uma mentira pode se disfarçar em homenagens, em dedicatórias, desde que sejam públicas, desde que se tenha como atrelar sua existência a testemunhas. É possível tornar aparente algo que nem existe, baseando-se simplesmente em apresentações com muitos expectadores.

Porém, o que é verdadeiro e profundo, o que realmente existe, o que é inegável e inescapável se comprova não naquilo que é público, não nos espetáculos, não nos gritos e apresentações. O que é não precisa de tamanha exposição para ser. O que é de verdade sobrevive e transparece na rotina, nos pequenos gestos cotidianos, nos cuidados ínfimos, nos detalhes tão pequenos de nós dois. Uma mentira não se sustenta nos detalhes. Mas a verdade salta aos olhos dos que percebem com atenção e sabem dirigir o olhar. O que é sincero, o que é honesto, o que é sentido no mais íntimo transparece em gestos, salta nos olhos, escorre nas palavras, transborda no toque. É impossível negar sua existência. É na delicadeza do dia a dia que se torna inequívoco o que há lá dentro.

"Eu tô falando de amor e não da sua doença. Eu tô falando de amor e não do que você pensa" (Leoni)


terça-feira, 15 de maio de 2012

Desabafo

As pessoas são capazes de surpreender umas as outras. Esse fato pode ser uma benção e pode ser uma tragédia. Fato é que não se pode prever a impressão que causamos ou causaremos no outro e como este outro vai agir e/ou reagir. As pessoas são incógnitas e até aquele com quem dividimos a cama pode ser, em algum momento, um estranho, um desconhecido. As pessoas possuem linhas de raciocínio próprias e sobre estas é impossível ter algum controle externo.

Vi uma frase que dizia que a responsabilidade de cada um recaía apenas sobre aquilo que era dito e não sobre o que era compreendido pelo interlocutor. E eu acho isso de uma irresponsabilidade sem tamanho. Não podemos nos responsabilizar apenas por aquilo que pensamos e dizemos. Somos também responsáveis pela imagem que passamos por meio do que não é verbalizado. Bem sabemos que olhares, atitudes, detalhes pequenos, no mais das vezes, são mais importantes que as palavras. Aquilo que é compreendido advém do que foi dito, é claro, mas não só disso. Gestos, jeitos e as próprias omissões também contam na construção da percepção. Por isso, eu me policio e, nas minhas relações, eu procuro sempre a transparência e a verdade. Por isso, atitudes e palavras devem ser congruentes.

Ainda assim, sou mal interpretada muitas vezes, sou julgada, sou vidraça estilhaçada. Não desanimo. Prefiro magoar com verdades a iludir com meias palavras, com eufemismos. Não me utilizo de subterfúgios, não fujo das conversas difíceis e tento ser o mais clara possível sobre o que sinto e sobre o que penso. Não acho que seja paradigma da verdade infalível e suprema. Não me tenho em tão alta conta assim. Porém, reconheço que a minha maneira de enxergar as coisas é bem pragmática e racional. Descobri uma forma de agir baseada naquilo que sinto, atentando para meus próprios limites  e para os anseios do meu coração. A este eu concedo o direito de me mostrar os caminho e me expor o que eu quero de verdade.

Diante do que demonstro, diante do que mostro, diante de tudo o que digo, o mínimo que eu gostaria de receber era respeito. Ninguém é obrigado a concordar, nem entender, nem se conformar com o que penso. Ninguém precisa interiorizar, tomar para si, tornar lema de vida nada do que eu adoto para mim. Porém, respeitar a minha posição é o que deveria ser feito. Respeitar minhas escolhas, minha forma de lidar com o que me é imposto, minhas apostas individuais e personalíssimas, a minha percepção da realidade que me cerca. No final das contas, a vida é minha e quem aguenta as dores nos meus calos sou eu mesma. No final das contas, sou eu quem vou arcar com as consequências.

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Para o dia de hoje que é difícil para alguém:

"Lembrar é fácil para quem tem memória,
esquecer é difícil para quem tem coração."

William Shakespeare


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Receita para ser infeliz

Se programe.
Todos os minutos do dia.
Inclua pessoas nesses planos.
Imagine e crie situações.
Inclua pessoas nessas situações.
Faça um elogio e espere um obrigado.
Faça um favor e imagine que será retribuído um dia.
Crie expectativas e imagens mentais.
Inclua pessoas nessas imagens.
Não tenha jogo de cintura.
Espere que os outros façam exatamente o que está na sua mente.
Acredite que as pessoas vão agir de acordo com o que você imaginou.
Pronto, vá dormir infeliz porque o mundo não girou ao redor do seu umbigo.


(From: http://cinthyarachel.com/2012/05/11/receita-para-ser-infeliz/)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Quem sabe?

Quando o Thiago morreu, uma música do Milton Nascimento ( "Quem sabe isso quer dizer amor" ) tava tocando muito no rádio. Eu fiquei um bom tempo sem ouvir as nossas músicas. Deixava o rádio ligado numa sintonia qualquer e se elas - as nossas músicas - vinham, eu mudava de estação. Essa música, em específico, nunca foi nossa, mas tocava tanto que, um dia, eu prestei atenção na letra e foi um deslumbramento. Aí, então, sempre que ela tocava eu achava que era ele me colocando pra ouvir. Meus pensamentos interpretativos são bastante criativos e eu imaginava uma história toda, em que ele se comunicava através dessa canção. Misteriosamente, ela tocava 4 ou 5 vezes por dia. O filme que passava na minha cabeça era mais ou menos assim:

Ele se dava conta de que tinha morrido e o espírito dele voltava para nossa casa para me encontrar e chegava ainda antes do sol nascer. Antes mesmo de entrar, um filme da vida inteira passava na cabeça dele e ele pensava em coisas que poderia falar, coisas que valeriam apenas para nós dois e me fariam perceber e acreditar que era ele mesmo que estava ali. Mas que tipo de comunicação se daria entre uma pessoa que já morreu e outra que estava viva? Sinais de bem, desejos vitais, pequenos fragmentos de luz. Ele falaria ainda da visão amplificada que quem já morreu consegue ter: a cor dos temporais, o céu azul, as cores de abril. Demonstraria que as coisas são muito além do bem e do mal e falaria daquilo que ninguém que está vivo jamais viu. Ele falaria que a vida segue em frente e o mundo continua a rodar, para sempre, e que, em cima dele, tudo vale. E ainda diria que através do amor é possível fazer o sonho acontecer.

Depois, ele falaria do tempo e era tempo demais que ele tinha agora. A eternidade de uma vida após a morte. Ele lembraria do meu sorriso e do meu beijo de paz e de como esse sentimento virou a cabeça dele. E ele não conseguiria parar de falar, o dia já estaria claro. E então, ele começaria um discurso religioso para que eu transformasse nosso amor (um ribeirão) em algo ainda maior (um braço de mar). Para isso, eu teria que encontrar aonde nasce a fonte do ser, e então seria ele falando de Deus para mim. E eu teria ainda que perceber que o coração dele ainda batia forte só por mim, mesmo depois de morto, comprovando a existência dessa vida além da morte. E, então, ele repetiria que o mundo continua a rodar e que vale  tudo em cima dele e que é através do amor que se faz o sonho acontecer.

Eu chorava muito ouvindo essa música, to-das as ve-zes. Hoje ela ainda faz muito sentido e aperta meu coração um tantinho, quando me pega desavisada, distraída. Ouvi esses dias novamente, sem querer, e pensei mais uma vez sobre a irreversibilidade da morte, de como essas pessoas que se vão permanecem tão vívidas em nós que ficamos aqui com uma saudade. Pensei também em como o tempo é um deus lindo, que faz com que o coração se acalme e, ainda que existam tantas, tantas, tantas lembranças, o sentimento não é mais de desespero, nem de dor, é só amor. Que bom que o mundo continua a rodar e que a vida  (a minha em específico) não parou lá atrás, naquele momento.


Cheguei a tempo de te ver acordar
Eu vim correndo à frente do sol
Abri a porta e antes de entrar
Revi a vida inteira
Pensei em tudo que é possível falar
Que sirva apenas para nós dois
Sinais de bem, desejos vitais
Pequenos fragmentos de luz
Falar da cor dos temporais
De céu azul, das flores de abril
Pensar além do bem e do mal
Lembrar de coisas que ninguém viu
O mundo lá sempre a rodar
E em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor
Estrada de fazer o sonho acontecer

Pensei no tempo e era tempo demais
Você olhou sorrindo pra mim
Me acenou um beijo de paz
Virou minha cabeça
Eu simplesmente não consigo parar
Lá fora o dia já clareou
Mas se você quiser transformar
O ribeirão em braço de mar
Você vai ter que encontrar
Aonde nasce a fonte do ser
E perceber meu coração
Bater mais forte só por você
O mundo lá sempre a rodar,
E em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor,
Estrada de fazer o sonho acontecer

(Quem sabe isso quer dizer amor - Milton Nascimento)

terça-feira, 8 de maio de 2012

Desejo

Que o que se faz de orgulho, de dúvida, de falta de fé, de medo, de ignorância se dilua em minhas lágrimas e saia do meu corpo e da minha mente. Que o que existe de egoísmo, inveja, soberba, preconceito não faça morada, não fira ninguém, não prepondere. Que as expectativas e deduções que construí não virem cobranças e exigências, não pertubem a paz do outro, não o façam se sentir empurrado contra a parede. Que o que eu quero e penso não seja maior do que aquilo que eu mereço. Que a tranquilidade e a paz sejam presentes abertos com brilho nos olhos e que sejam a nossa rotina. Que a minha alegria encontre abrigo na paz do coração do outro. Que o conforto do abraço seja a certeza do perdão, da tolerância, da resistência desse amor. Que cada vez que os olhares se cruzarem, a chama acenda no peito a certeza de que é isso que se quer. Que cada momento juntos seja inspiração para que repitamos sempre a doçura e o afeto em atitudes. Que nada do que feriu continue a comprimir o coração, impedir o sorriso, abafar o sentimento. Que tudo que amamos um no outro seja exaltado e reconhecido. Que as feridas abertas e sangrando cicatrizem rapidamente com soprinhos de bem querer. Que os beijos sejam declarações explícitas daquilo que não se consegue mais conter. Que os pormenores sejam enxergados exatamente do seu tamanho e nunca tomem proporção diferente, impedindo a espontaneidade e a construção do equilíbrio em uma via de mão dupla. Que as indecisões, as inseguranças, as incertezas sejam suplantadas pela vontade maior de fazer o outro feliz. Que haja a certeza na mente e no coração de que um sempre pode contar com o outro, apesar de, para além do depois do final. Que se saiba, diante de qualquer outra possibilidade de contentamento, que o amor é maior e que por ele vale a pena lutar e negar. Que sejam compartilhados os ombros, a mão, os braços, os lábios, o peito, a cama, a vida. Que ele saiba que junto dele a vida é mais bonita, meu sorriso é mais aberto, minha alegria vira estampa, meu sono é mais profundo, minha alma repousa em paz. Que ele saiba que não existe nada que eu mais queira que caminhar de mãos dadas nessa estrada nos dias de sol e nos dias de atoleiro também. Que ele entenda que suas falhas, suas dificuldades e seus receios não me desapontam e que eu aprenda a ser acolhedora e ter olhos de amor sempre. Que perceba o quanto eu quero que seja inteiro, seja feliz, seja livre, seja quem é a cada dia que o sol nascer. Que torço para que seus caminhos se abram, para que seu coração transborde, para que sua vida irradie felicidade e contagie quem está ao redor. Que faço preces para que tudo aquilo que enruga sua testa e aflige seus pensamentos desapareça sem deixar vestígios, bem como aquilo que abre seu sorriso e acalma seu coração seja multiplicado. Que ele ouça no íntimo a oração que eu faço por ele e pelos nossos e que isso o permita sorrir ainda mais bonito, daquele jeito que aquece meu coração e me faz cambalear. Que ele se sinta amado a cada dia, com toda força, mesmo quando as minhas atitudes disserem que não. Que se sinta amado no superlativo máximo possível, do jeitinho que é, da melhor maneira que se pode ser. Que nunca desconfie das minhas intenções, dos meus sentimentos, da minha entrega, do meu amor. Que reconheça que juntos somos muito mais que dois, muito mais que seis, muito mais que nós. Que essa vida que construímos seja de paz, seja de amor, seja muito mais. Amém.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Se for

Se for pra doer, que doa por inteiro
Que a felicidade não seja de tristeza, seja genuína
Se for pra cair, que seja com o corpo todo
E se for para se envolver, que seja de alma

História, antes de ser contada, precisa ser vivida
Por isso não adianta, tanto assim, nossa teoria
Pois, se for pra roubar, que seja um diamante
E se for para dar, que seja de bom grado

Inventamos brincadeiras, novidades e pelejas
Não sabemos mais onde começam nossas paixões
E onde acabam em nossos medos. Por qual rio que segue.
No final, se for para se afogar, que seja por um profundo suspiro

Tudo que temos são essas canções nossas
Algumas lembranças e muitos, mas muitos desejos reprimidos
Então, se for para escondê-los, que sejam destruídos
Porque eles insistem em escapar por entre nossas bocas

Eles escapam quando nos abraçamos, quando fumamos
Fogem para fora de nós quando nos tocamos, nos vemos
E se for para fugir, que seja uma rebelião em massa
Chega dessa fuga esporádica, homeopática, breve e vaga

Querendo ou não, se for amor, não dá para manter o controle
E se for para perder o controle, que o percamos juntos


(From: http://bjsnaomeliga.blogspot.com.br/)