domingo, 29 de abril de 2012

Esta vida tem uma única razão: amar



PS: É bom lembrar que fui amada assim, sendo o primeiro, sendo o destino, sendo a razão da vida.
PS2: "Não se compara exceto com o que houvesse após a morte." (oi???)
PS3: "É absoluto: por isso, inconsolável."

sábado, 28 de abril de 2012

Sem porquê, sem pra quê



O amor acaba
Por Paulo Mendes Campos


O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

Texto extraído do livro "O amor acaba", Editora Civilização Brasileira – Rio de Janeiro, 1999, pág. 21, organização e apresentação de Flávio Pinheiro.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Soneto de Advertência (Pedro Lyra)

SONETO DE ADVERTÊNCIA
Ama.
        Queres amar.
                           Pois então ama
desde que cumpras certas condições.
Uma
        antes de todas outras:
                                        que ela
possa te amar também
                                   e que não sonhes
que esse amor vá além do seu desejo.
E não vejas de um céu
                                 o que é do chão.
E não julgues eterno
                              o que é da hora.
E não forjes o gume
                               em que te firas.
E não lhe queiras mais
                                 do que a ti mesmo.
Que não te prives
                          do que mais persegues
e não te inflijas
                        o que mais rejeitas.
E que não ames
                        nunca
                                    ao ponto extremo
de já não mais poder deixar de amar
nem de não mais poder viver sem ela.


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Fato

Não sei se é porque eu estou sensível demais estes dias, meio à flor da pele pra tudo; mas sabe o que me fez lacrimejar hoje???

Pegar a agenda escolar dos meninos e ler um bilhetinho da professora dizendo que, segredinho nosso! (assim mesmo, tinha isso escrito no bilhete), era preciso mandar uma quantia X em dinheiro para a lembrancinha do dia das mães.

Coração apertado porque eu já sei do segredo, sou eu mesma que vou pagar (para sempre, né?) e não tem ninguém com quem os pequenos possam confabular.

:(

PS: Eu estou praticamente uma esponja encharcada, qualquer coisa me aperta e eu estou me debulhando. Não se preocupem. Já falei do meu inferno astral?!?

terça-feira, 24 de abril de 2012

Choque de realidade

Ao encarar mais uma vez aquela casa de velórios, ao adentrar mais uma vez naquele ambiente de paredes de vidro, ao ver mais uma vez uma multidão de jovens chorando a morte de um dos seus, foi impossível não voltar mais de dois anos da história da minha vida. Impossível não voltar para aquele dia em que era eu que estava sentada naquelas poltronas brancas em torno do caixão. Foi impossível não voltar para aquela sensação - que agora se repete - de solidão, de que não teria ninguém segurando minha mão, ninguém mais olhando por e cuidando de mim.

Ao me deparar de novo com aquela dor de dois anos atrás, eu redescubro em mim a força, a leoa que existe em mim. Eu revejo o que aprendi sobre aquilo que importa, sobre aquilo que merece ser enfrentado como problema e o que é sem jeito, o que é sem solução. Foi duríssimo entender que algumas coisas na vida NÃO tem explicação NEM solução. Foi duríssimo aprender a conviver com elas e engolir a sensação de ter sido injustiçada, de que poderia ter feito mais - quem sabe um minutinho a mais no telefone e o acidente nem teria acontecido. Mas não. Algumas coisas estão absolutamente fora do nosso controle e isso é um fato.

Vale a máxima: o que não tem remédio, remediado está. Não poderia ter sido diferente. Não há nada sob o céu que eu poderia ter feito. Não há nada mais que eu possa fazer. A vida segue seus rumos, às vezes doces e lindos, às vezes tristes e de um azedume que trava na boca. Mas ela é o que é e cabe a cada um de nós viver apesar de. Eu tento, pelo menos.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Oração

Diante do que enfrento, diante da minha mais absoluta ignorância, diante da minha tentativa vã de controlar aquilo que não está sob meu controle e de tentar racionalizar o que não cabe na lógica, eu Te peço que resigne meu coração e me devolva a paz de espírito que eu perdi em algum ponto enlameado do caminho que percorri. Eu Te peço sabedoria para fazer escolhas certas e que elas me levem para uma estrada com menos percalços, com menos sofrimento, com menos dor. Eu Te peço tranquilidade e calmaria para que eu consiga transpor com leveza esses desafios que agora me são impostos. Eu Te peço que acalme essa minha ansiedade para saber os finais, a moral da história e acalme a minha mente das projeções intuitivas que ela faz. Eu não quero intuir, eu não quero descobrir mais nada, eu não quero fazer equações lógicas e achar resultados finais. Eu quero a paz de um coração tranquilo, de me sentir inteira em mim, eu quero repousar depois de tantos cataclismas e vendavais. Eu Te peço que seque meu coração dessa dor, dessa mágoa, desse desespero e desse sentimento, que enxugue minhas lágrimas que teimam em cair, que me faça desembotar minha visão e que eu enxergue e agradeça por cada um dos milagres e bençãos que me são proporcionados. Eu Te peço que me faça mais forte e mais valente para entregar a Ti aquilo tudo que não me compete. Eu Te peço que torne meus dias mais leves, minha rotina mais fácil e que o que me atormenta passe logo. Eu sei que peço demais, mais ainda em se tratando de alguém que nem é tão íntimo assim. Peço por reconhecer minha incapacidade, ineficiência, minha pequenez diante do que sinto. Peço por reconhecer minha desorientação. Obrigada por me ouvir, ainda que não me atenda.  Obrigada ainda assim.

domingo, 22 de abril de 2012

Sigo em frente porque acredito

Dentro de mim, existe uma luz, uma força, uma energia, que me impulsiona nessa caminhada. Dentro de mim, existe também a velha esperança, que me faz olhar para frente e sempre achar que o melhor está por vir. Quando as coisas ficam difíceis assim, quando a vida vira mais uma esquina, quando revira tudo por dentro, é difícil enxergar a luz, a força, a esperança. Sigo meio que tateando e no instinto, como eu fiz da outra vez em que o mundo virou de cabeça pra baixo. Sigo meio cega, meio tonta, cambaleando... Mas sigo tentando soltar o que me prende, tentando tirar de dentro de mim aquilo tudo que já se foi e é sem jeito. Meu destino é ser feliz, por isso eu continuo tentando. É isso que faz valer a pena. Sei que os tempos serão ainda mais difíceis a curto prazo. Sei que o peso será ainda maior. Daqui um mês, um ano a mais (e parece uma década). Daqui até lá, o inferno astral que chega com ares de que será um longo inverno em um mês, desses que deixam um azedume na boca. Mas há de passar e um novo céu azul se abrirá. Eu acredito nisso. Sigo em frente porque acredito.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Pesado

Eu sou mais feliz às sextas. Eu costumo repetir isso no Facebook quase toda sexta-feira e, em especial, naquelas em que o tic-tac do relógio era marcado com a batida ansiosa do meu coração. Só que hoje não. De repente, tudo muda. Dobra-se uma esquina, e um abismo. Dobra-se uma esquina, e uma ladeira tão íngreme, mas tão íngreme, que a gente perde o fôlego só de olhar e acha que simplesmente não vai ter perna para subir e continuar a caminhar.

Não, hoje não dá. É preciso repor a armadura, é preciso recuperar as forças, é preciso energia para subir a ladeira. Hoje eu só quero descobrir em que lugar está a força que sempre me moveu pra frente, que sempre me fez prosseguir. Eu sei que retornar não é uma opção e eu acredito que subir a ladeira me fará enxergar melhor o mundo, de um lugar mais alto, mais bonito talvez.

Uma amiga me mandou um email com as figuras abaixo. As frases estão em inglês, mas acredito que dê para entender. Não há como fugir do que é preciso enfrentar. Não há como empurrar com a barriga, fingindo não existir o que é real. Eu não procuro saídas tangenciais para os meus problemas, nem os pequenos, nem os grandes. Concluo, então, esperando que esse peso e essa dor que carrego e se avolumam nos meus ombros sejam meio para uma transformação mais profunda e para um final doce e feliz.